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Guilherme Favaron

Crianças conectadas: pesquisa sobre como as famílias equilibram tecnologia e bem-estar (PARTE 1)

Estudo com mais de 400.000 famílias em 2023 ajuda a responder perguntas-chaves: como as gerações mais jovens veem o mundo digital e as mudanças que ele enfrenta atualmente? Quais desafios as famílias enfrentam ao manter seus filhos seguros em uma sociedade online? 


O texto abaixo é uma discussão a partir do report da Qustodio by Qoria (Born Connected, The Rise of The AI Generation) de 2023 e apresenta um panorama completo do tempo de tela, entretenimento, redes sociais, jogos e tendências educacionais, explorados globalmente e em cinco grandes mercados. Quem me conhece de perto sabe o quanto me preocupo com a educação de crianças e jovens, especialmente por causa dos meus dois filhos.


O report completo tem mais de 100 páginas e é muito interessantes. Vou deixá-lo disponível aqui no meu site, neste link. A versão "mastigada" aqui, com excertos das principais partes e dados do report, vou fracionar em diferentes partes para que o texto não fique muito longo. O objetivo deste texto é explorar como as famílias ao redor do mundo estão equilibrando o uso saudável de tecnologia com a segurança e o bem-estar de seus filhos. 


Antes de mais nada, a tecnologia faz parte integrante da vida das crianças hoje em dia. Tablets, smartphones e laptops são companheiros constantes desde tenra idade, seja para entretenimento, comunicação ou educação. Isso traz benefícios, mas também desafios para as famílias. 


Como foi feita a pesquisa que apresento aqui?


O estudo que embasa este artigo está baseado em dados de uso anônimos de mais de 400.000 famílias com crianças entre 4 e 18 anos em todo o mundo, rastreando o uso de aplicativos e ferramentas online em dispositivos móveis e desktop de 1o de janeiro de 2023 a 31 de dezembro de 2023. O uso é comparado aos dados de 2022 e 2021, com comparação adicional aos dados de 2019-2020. As análises abrangem o uso global geral e dados mais localizados dos EUA, Reino Unido, França, Espanha e Austrália. O uso é dividido em cinco categorias: vídeos online, mídias sociais, jogos, educação e comunicação. O estudo também analisa o uso de aplicativos e sites educacionais em 10.000 escolas globalmente para entender o uso da tecnologia em salas de aula. Além disso, 950 pais que usam ferramentas de controle parental foram pesquisados sobre o gerenciamento de tecnologia e 100 crianças de 10 a 13 anos foram entrevistadas para fornecer sua perspectiva. Vamos que tem muito pra discutirmos.


Principais riscos às crianças


Dentre os desafios, a pesquisa revelou que a exposição a conteúdo adulto e o aliciamento online são as principais preocupações quando o assunto é o uso de tecnologia pelos filhos. É fácil entender o porquê: mais da metade dos adolescentes nos EUA já foi exposta acidentalmente à pornografia na internet. No Reino Unido, crimes de aliciamento online contra crianças cresceram 80% entre 2017 e 2022. Outras apreensões incluem vício em internet, cyberbullying e questão relacionadas à saúde mental e sono. Estudos já mostraram que o uso excessivo de smartphones à noite pode perturbar o sono e a atenção das crianças. A privacidade também é motivo de alerta para alguns pais.


Quais os principais riscos que motivam o monitoramento de dispositivos utilizados por crianças?
Quais os principais riscos que motivam o monitoramento de dispositivos utilizados por crianças?


Quando liberar o celular para a molecada, com controle parental?


De acordo com a pesquisa, 28% dos pais acreditam que controles parentais devem começar a ser usados antes dos 3 anos de idade, com controle parental sobre o conteudo acessado. Porém, a maioria prefere introduzi-los mais tarde, entre 7 e 12 anos – justamente quando as crianças costumam ganhar seu primeiro smartphone. De acordo com pesquisas, em 2015 apenas 41% das crianças tinham celular aos 12 anos; agora, 25% das crianças tem celular aos 10 anos e 75% das crianças aos 12 anos tem seus celulares.


Qual a idade ideal para se usar controle parental nos dispositivos das crianças?
Qual a idade ideal para se usar controle parental nos dispositivos das crianças?

Na educação dos meus filhos, entendo que o momento certo de começar a usar as ferramentas de controles parentais é quando as crianças ganham acesso independente a dispositivos eletrônicos.

Criando espaços mais seguros para as crianças


Muitos pais usam ferramentas de controle parental para ter mais visibilidade e entendimento de como seus filhos interagem com a tecnologia. Essas ferramentas ajudam a incentivar hábitos e rotinas mais saudáveis de uso de tela, melhorar a qualidade do sono das crianças e facilitar conversas sobre o mundo digital.


A maioria dos pais usa os controles parentais para filtrar conteúdos impróprios, monitorar o tempo de tela geral, definir limites em aplicativos específicos e estabelecer limites de tempo diários ou semanais. Metade dos pais também usa o rastreamento de localização para monitorar onde os filhos estão. 

Para que o controle parental é utilizado?
Para que o controle parental é utilizado?

No geral, esses recursos são ferramentas que ajudam os pais a construir um ambiente online mais seguro e equilibrado para seus filhos, desenvolvendo rotinas e promovendo seu bem-estar. Porém, o mais importante é como essas ferramentas são aplicadas pelos pais para atender às necessidades de cada família.


Como o controle parental ajuda as famílias?
Como o controle parental ajuda as famílias?

Além de ferramentas digitais, os pais também usam estratégias de gestão familiar para garantir o uso seguro de dispositivos pelos filhos. O método mais comum é o diálogo - 87% dos pais têm discussões regulares sobre hábitos online. Outras estratégias populares são limitar o tempo nos videogames, assistir ou jogar juntos, restringir o uso de dispositivos apenas em áreas comuns e ter atividades off-line. Apenas uma minoria dos pais senta com os filhos enquanto eles usam a internet ou adota outras técnicas, como manter dispositivos fora dos quartos à noite. Em resumo, a maioria combina ferramentas digitais com supervisão, comunicação e envolvimento ativo na vida digital dos filhos para mantê-los seguros.


Outros métodos utilizados pelos pais para manter as crianças em um ambiente seguro
Outros métodos utilizados pelos pais para manter as crianças em um ambiente seguro

A maioria dos pais remove os dispositivos eletrônicos dos filhos em certos momentos, seja como punição (80%) ou como parte da rotina regular (88%), por exemplo durante as refeições ou na hora de dormir. No entanto, poucos pais monitoram ativamente a vida social online dos filhos - menos de um terço segue os próprios filhos nas redes sociais e apenas 20% já acessou os perfis dos filhos nas mídias sociais para mantê-los seguros. Apesar de usarem controles parentais, a maioria dos pais prefere preservar a privacidade dos filhos online.


Ações para proteger as crianças quanto ao uso de dispositivos eletrônicos
Ações para proteger as crianças quanto ao uso de dispositivos eletrônicos

Nasce conectado e cresce conectado


Determinar a idade ideal para dar total liberdade digital aos filhos é difícil. Mesmo atingindo a maioridade legal (18 anos), o cérebro ainda está em desenvolvimento, especialmente a parte responsável por tomada de decisões e planejamento, que amadurece por volta dos 20 anos.


Refletindo essa realidade, 68% dos pais acreditam que a idade certa para parar de monitorar a atividade online dos filhos é aos 18 anos ou mais. Outros 15% consideram 16 anos o ideal, e apenas 9% acham que com 17 anos já estão prontos. Quase nenhum pais (7%) acha apropriado dar autonomia digital total antes dos 16 anos.


Em resumo, para a grande maioria dos pais, a idade mínima para remover o monitoramento online coincide com a maioridade legal, possivelmente refletindo o amadurecimento cerebral incompleto dos adolescentes.


Quando parar de monitorar as crianças?
Quando parar de monitorar as crianças?

De casa até a Escola


O uso de dispositivos digitais pelas crianças para fins educacionais está aumentando - 72% das crianças os utilizam para a escola, seja dispositivo próprio (28%) ou fornecido pela escola (44%).


Com essa tendência de alta, cresce também a necessidade de monitoramento e medidas de segurança digital adequadas, tanto em casa quanto na escola, para garantir que o uso dos dispositivos pelas crianças seja seguro e produtivo.


Instituições educacionais em diversos países estão estabelecendo padrões e ações nesse sentido, como filtros e monitoramento de estudantes no Reino Unido e Coordenadores de Bem-Estar Digital nas escolas da Espanha.


Portanto, à medida que tecnologia e educação se integram mais, faz-se necessária uma abordagem unificada de pais e escolas para proteger as crianças no ambiente online.


As crianças precisam utilizar celular nas escolas?
As crianças precisam utilizar celular nas escolas?

A maioria das escolas (56%) usa sistemas de filtragem para limitar o conteúdo acessado pelos alunos na rede escolar. Outra medida comum é proibir o uso de celulares em sala (54%). Sistemas de gestão de dispositivos que permitem monitoramento em tempo real pelos professores são menos utilizados (20%).


Abordagens como educar os pais sobre hábitos digitais (24%) ou aplicar currículos de cidadania digital (24%) são ainda menos frequentes. 19% dos pais não sabem se a escola oferece algum suporte de bem-estar digital.


Muitas vezes falta apoio familiar para gerenciar dispositivos escolares (8%). As escolas estão começando a se adaptar a tecnologias novas como IA, entre posições divergentes. A Austrália planeja integrá-la ao aprendizado, enquanto a UNESCO lançou guias globais abordando riscos e oportunidades na educação.


À medida que aumenta o uso de dispositivos escolares, cresce a necessidade de sistemas de suporte. Porém, adoção de medidas de bem-estar digital varia conforme as regiões, havendo ainda uma lacuna de conexão entre escola e família.


Como a escola protege as crianças dos riscos digitais?
Como a escola protege as crianças dos riscos digitais?

As crianças já estão explorando a Inteligência Artificial generativa


Globalmente, quase 20% das crianças acessaram a OpenAI em 2023, colocando-a na 18ª posição entre os sites mais visitados do ano. Nossa investigação também revela o uso da OpenAI por crianças nos EUA, Reino Unido, Espanha, França e Austrália: quão rápida foi a adoção em cada país?


Uso da OpenAI pelas crianças
Uso da OpenAI pelas crianças

O futuro das famílias


Em 2023, a IA experimentou grande popularização, com o ChatGPT atingindo 100 milhões de usuários. Espera-se que ferramentas de IA cresçam quase 40% ao ano até 2030. Ainda é início da adoção para a maioria, mas em breve será realidade para crianças da Geração Alpha.


As gerações mais velhas terão que se adaptar rapidamente também para guiar seus filhos nesses novos ambientes. Assim como aconteceu com a chegada da internet, haverá um antes e depois na era da IA.


Crianças aprenderão e descobrirão possibilidades e riscos de um jeito novo. Para mantê-las seguras, os pais terão que acompanhá-las em todas as etapas usando monitoramento e supervisão, já que dispositivos integram a vida das crianças hoje desde muito cedo.


Em resumo, à medida que IA se populariza, pais precisam se adaptar junto das crianças "nascidas digitais" para orientá-las por novos desafios e ambientes online que surgem.


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